sexta-feira, 24 de julho de 2009

Entrevista com Max Lucado

Seguindo a proposta de disponibilizar neste blog tudo que for capaz de abençoar, edificar e contribuir para o crescimento espiritual do povo de Deus, publicamos nesta sexta-feira, dia 24 de julho, uma entrevista realizada pelo Portal 'Cristianismo Hoje' com o pastor norte-americano Max Lucado, autor de mais de setenta livros, entre eles “Quando Deus Sussurra Seu Nome”, “Nas Garras da Graça” e “Simplesmente Como Jesus”. Eis a entrevista concedida pelo escritor:

Cristianismo Hoje - A passagem de João 3.16, também chamado de "texto áureo" da Bíblia, é certamente a mais lida e pregada da Escritura. Por que o senhor a escolheu como base do seu último livro?

Max Lucado - Sou pastor, e todos os meus livros são para a Igreja - ou seja, eu os faço pensando na Igreja, e ela necessita saber que estamos numa época em que precisamos estudar um Evangelho simples. E como fazer isso? Explicando tudo numa frase bem simples, expressando opiniões mais simples ainda. Então, considero o texto de João 3.16 como uma passagem ideal. O curioso é que a primeira vez em que pensei neste livro foi em 1998, quando ouvi uma música da cantora Jacy Velasquez baseada justamente na passagem de João 3.16. Aí, uma pessoa me deu a idéia de escrever um livro baseado também naquele texto. Bem, passados estes anos, aí está o livro.

Cristianismo Hoje - Por que seu último livro foi lançado num 11 de setembro, data tão emblemática para a humanidade?

Max Lucado - Há uma maneira de comparar 9 de setembro com João 3.16 - e é precisamente a contraposição do medo contra a esperança.

Cristianismo Hoje - Na sua opinião, o que mudou na Igreja após aquele episódio? Ela também perdeu um pouco da sua esperança? Como os cristãos americanos lidam com a questão?

Max Lucado - Infelizmente, nada mudou desde então. Eu me lembro de que nos primeiros dias após o atentado, todas as igrejas estavam lotadas. Só que o tempo passou e as pessoas não permaneceram naquela busca pelo Senhor. Agora, está tudo normal. Infelizmente, o cristianismo não influencia os Estados Unidos. Aliás, os Estados Unidos não são um país cristão, mas um país que tem cristãos. Um país cristão glorifica a Cristo em suas decisões e os Estados Unidos não estão fazendo isso. Eu acho que os Estados Unidos não estão crendo no Senhor como a Coréia do Sul, o Brasil ou a China.

Cristianismo Hoje - Qual sua expectativa quanto ao efeito de João 3.16 sobre os leitores?

Max Lucado - Eu tenho duas expectativas. Uma delas é a de alcançar as pessoas que não são discípulos de Cristo - para isso, quis apresentar-lhes um livro que explicasse o Evangelho de forma simples. A outra é edificar os cristãos, fazendo-os entender o Evangelho. Eu quis descomplicar as coisas importantes da Palavra de Deus.

Cristianismo Hoje - Mas o livro tem alguns capítulos que abordam temas bem complicados, como a existência do céu e do inferno. Algumas modernas interpretações da Bíblia têm procurado relativizar essa doutrina, sugerindo que um Deus tão amoroso jamais lançaria pessoas no inferno, e que este termo, na realidade, significaria apenas "sepultura". O senhor considera que as referências ao céu e ao inferno, na Palavra, são literais e referem-se mesmo a estados eternos a que serão destinadas todas as pessoas?

Max Lucado - Eu procurei achar todas as possibilidades e caminhos para concordar com as pessoas que dizem que não existe literalmente o inferno. Mas, simplesmente, não concordo com isso. As Escrituras descrevem uma punição eterna com a mesma convicção que falam sobre a existência do céu. Eu estou convencido de que o inferno existe de fato - e é o destino eterno das pessoas que passam a vida inteira dizendo para Deus as deixarem a sós. Pois no final, é exatamente isso que Ele irá fazer.

Cristianismo Hoje - Desde o lançamento de “O maior vendedor do mundo”, de Og Mandino, os temas motivacionais e princípios da auto-ajuda ensejaram o surgimento de um dos principais gêneros literários da atualidade. Qual a sua opinião acerca deste tipo de literatura?

Max Lucado - A auto ajuda é uma boa idéia - mas uma mão limpa não pode ajudar a limpar uma suja. Logo, os princípios da auto-ajuda não são suficientes para o ser humano. Por isso, temos que buscar ajuda de outro lugar. Precisamos ter ajuda de Deus. É por isso que eu prefiro a Cristo-ajuda...

Cristianismo Hoje - Mas esses temas também têm influenciado fortemente a literatura evangélica. Como conciliar, então, os princípios da auto-ajuda, que visam ensinar as pessoas a resolver seus problemas, com a fé cristã, que enfatiza a dependência irrestrita de Deus?

Max Lucado - Bem, todo mundo precisa de encorajamento - e, por isso, todo mundo precisa atualmente da mensagem de Cristo sobre a cruz e a ressurreição. No entanto, não podemos sacrificar o Evangelho. Só encorajar não é suficiente. Temos que tratar o pecado, explicando sua natureza e mostrando o Salvador, mas não abrindo mão do Evangelho.

Cristianismo Hoje - O que sabe da aceitação de seus livros no Brasil?

Max Lucado - Fico feliz porque sempre recebo muitas cartas de brasileiros, que fazem questão de me encorajar e incentivar.

Cristianismo Hoje - Que lembranças o senhor guarda do período em que viveu no Brasil?

Max Lucado - Tenho um amor especial pelo Brasil! É o melhor povo do mundo. Os brasileiros me ensinaram muito sobre relacionamento. Na juventude, eu passei um verão no Brasil como estudante universitário. Então, acabei me apaixonando pelo país, e desde então sabia que o seu país era onde eu queria morar. Eu tenho três filhas, sendo duas nascidas no Brasil; logo, eu e minha família temos raízes profundas com esse país. Eu ainda tenho muito amigos no Brasil, especialmente nas cidades do Rio de Janeiro, Natal, Recife e São Paulo. Eu também tenho lembranças de Porto Alegre e Curitiba. Foi um privilégio viver aqueles anos em seu país.

Cristianismo Hoje - A publicação do documento Respostas a questões relativas a alguns aspectos da doutrina sobre a Igreja, no qual o Vaticano arvora para o catolicismo a condição de "única Igreja de Cristo", foi um duro golpe no processo de aproximação da Igreja Católica das demais correntes cristãs. Como escritor que também é maciçamente lido por católicos, o que o senhor pensa acerca deste enfrentamento?

Max Lucado - Eu acho que ser cristão é ser uma pessoa cujo Deus é o Senhor e que tem a Jesus Cristo como único salvador. Ora, não podemos ser salvos sem Cristo! Eu não acho que todos os caminhos levam a Deus. O que faz uma pessoa cristã não é a igreja que ela freqüenta; por isso, acho que há verdadeiros cristãos tanto na Igreja Católica quanto nas igrejas protestantes. Todavia, há muitos católicos que não são cristãos, como também há muitas pessoas que pertencem a igrejas evangélicas que não o são.

Cristianismo Hoje - Em seu livro "Dias melhores virão", o senhor defende a crença no fato de que o Senhor sempre está no controle da situação - mesmo em casos de extremo infortúnio, como a doença e a morte, tema também presente em Aliviando a bagagem, Ele ainda remove pedras e diversas outras obras suas. Mesmo para o cristão, manter a fé diante do mundo de hoje não está cada vez mais difícil?

Max Lucado - Sim, está. Eu acho que é muito difícil ser cristão. Principalmente, nos Estados Unidos, onde o secularismo é uma religião - ou seja, só se acredita vendo. Por causa disso, as pessoas não oram, pois só acreditam no que vêem. O que eu gosto no Brasil é que os brasileiros acreditam que existe um mundo espiritual, crêem na existência de anjos etc.

Cristianismo Hoje - Na sua opinião, o cristão tem uma percepção correta do sofrimento e do seu significado?

Max Lucado - É muito necessário a gente entender o propósito do sofrimento. Ele é a ferramenta usada por Deus para tratar o caráter humano. A Bíblia diz que o sofrimento nos prepara para sermos fortes; ele nos prepara para a vida eterna. E é fundamental ressaltar que a Palavra de Deus não nos revela que não teríamos sofrimentos - mas afirma que Cristo nos fortaleceria nestes momentos.

Cristianismo Hoje - A teologia da prosperidade, de matriz americana, influenciou fortemente a Igreja Evangélica brasileira. Um de seus pressupostos básicos é justamente a eliminação do sofrimento nesta vida. Mas percebe-se que hoje tem havido um certo "cansaço", sobretudo em relação a promessas dos líderes que não se concretizam na vida dos fiéis. O que o senhor pensa da confissão positiva?

Max Lucado - Eu não acho bom dizer às pessoas que, quando elas se tornarem cristãs, vão ter coisas materiais. E tenho problemas com aqueles que dizem que, quando o indivíduo se converte, vai ganhar dinheiro, não vai ter doenças... Mas a promessa de Cristo é a de nos fortalecer no meio dos problemas, e não, que a gente não vai tê-los.

Cristianismo Hoje - O que mudou no Max Lucado escritor desde o lançamento de seu primeiro livro?

Max Lucado - O que mudou (risos)? Hoje em dia, eu tenho mais dead line (Da redação: Trata-se de expressão utilizada no segmento editorial e se refere aos prazos para fechamento de textos e entrega de originais). Agora, eu trabalho muito mais no computador do que antes. Eu escrevi meus primeiros livros na época em que morava no Rio de Janeiro. Naquele tempo, eu os escrevia entre dez e meia da noite e meia-noite... Só que agora, uso o meu tempo integral para escrever.

Cristianismo Hoje - Por que o senhor resolveu aposentar-se do pastorado da Oak Hills Church, congregação onde exerceu o ministério desde 1987?

Max Lucado - Na verdade, não estou me aposentando. Só estou mudando de cargo, já que vou ficar trabalhando como professor da Bíblia. Acontece que conciliar o ofício de escritor com o cargo de pastor principal é demais. Só estou simplificando as coisas...

Cristianismo Hoje - Em João 3.16, Deus apresenta seu amor infinito ao homem. Como o senhor tem vivenciado este amor na sua vida?

Max Lucado - O amor de Deus é a coisa mais importante da minha vida. Eu lutei muito com o Senhor nos primeiros dias da minha conversão. Era alcoólatra e achei que Deus poderia me perdoar; e aí, finalmente, comecei a acreditar nesse amor divino e efetivamente cri que Deus pode nos perdoar.

Cristianismo Hoje - Em recente entrevista a uma revista americana, o senhor abordou essa sua relação com o álcool - tema considerado tabu no segmento evangélico, que consideram seu consumo como pecado. Por que o senhor resolveu tocar no assunto?

Max Lucado -O abuso do álcool é parte da minha história, pois me envolvi cedo com a bebida. Mas, graças a Deus, beber excessivamente não é mais uma tentação para mim.

Cristianismo Hoje - Logo, Deus é o Deus da segunda chance?

Max Lucado - E da terceira, da quarta...

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