sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Teologia da Malignidade

Cena 1. O pernambucano José dos Santos Vidigal, 57 anos, casado e pai de quatro meninas chega para mais um culto realizado pela sua igreja. Desempregado há seis meses e com sérios problemas de saúde, o auxiliar de eletricista sente dificuldades para acomodar a mulher e as crianças. O templo, localizado na grande São Paulo, está lotado.

Cena 2. Depois de dez minutos fazendo alguns comunicados, o pregador da noite inicia sua mensagem fazendo um alerta: “Deus quer ter abençoar. Se Ele não está fazendo isso é porque você não está fazendo a sua parte. Você precisa parar de sofrer, precisa parar de viver como um miserável.

O Senhor tem poder para te tirar do barraco que você vive e te colocar numa mansão. Se você for fiel, com certeza, ele vai te tirar do ônibus e te colocar num carro zero quilômetro. É preciso tomar posse disso. Você vai parar de contar os tostões para passar a contar muitos e muitos reais.

E o caminho, meu irmão, para que isso aconteça na sua vida é a oferta. Quanto mais você dá a Deus, mas você recebe Dele. Pare de ofertar com os olhos do inimigo. Esse quer que você continue na pobreza. Esse quer a sua infelicidade. Por isso, se você não tem dinheiro, com os olhos da fé, venda o que você tem. Como sacrifício, coloque no altar de Deus tudo o que você possui”.

Cena 3. Uma semana depois, acompanhado de sua esposa e de suas quatro filhas, José dos Santos Vidigal chega mais uma vez à sua igreja. Na hora do ofertório, caminha, trôpego, e coloca na salva a importância de 350 reais. Atendendo ao “pedido” do seu pastor, o nordestino desempregado vendeu tudo o que ainda lhe restava: um fogão e uma geladeira velhos.

Cena 4: Passados quase um ano da noite em que deu 350 reais à sua igreja, frutos da venda de seu fogão e da sua geladeira, José dos Santos Vidigal continua desempregado, doente e morando em um barraco construído num bairro da periferia paulista. José e a família vivem com a ajuda dos parentes de sua esposa que desfrutam de uma situação financeira melhor.

A história relatada acima é verdadeira e, infelizmente, vem se reproduzindo de forma exponencial em todo o país. Casos tristes como o de José e sua família são alimentados pela chamada Teologia da Prosperidade, um instrumento diabólico utilizado por algumas “igrejas” e “pastores midiáticos” com o objetivo, único e exclusivo, de faturar milhões e milhões de reais.

E o que diz a Bíblia acerca disso? A Palavra do Senhor afirma que viveríamos numa bela casa ou apartamento? que andaríamos de BMW? que teríamos milhares de reais na conta corrente? Em algum dos seus sermões, Jesus garantiu que, em sendo crentes, dizimistas fiéis e ofertantes generosos, desfrutaríamos de uma vida repleta de saúde, bem-estar e dinheiro?

Claro que não. Lá em I Coríntios, 15:19, lemos: “Se esperarmos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens”. Por ter todo o poder, Deus pode até nos abençoar com bens materiais, mas não é essa a sua principal promessa. Conheci irmãos, crentes em nosso Senhor Jesus, que morreram pobres. Jamais de forma miserável, mas pobres. Por outro lado, quantos ímpios, escarnecedores da Palavra, morreram milionários?

“Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam. Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam, nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”. Mateus 6:19-21. Nossa principal preocupação não deve ser a obtenção de bens materiais. A verdadeira prosperidade é ter e manter Cristo no coração. Ele é a nossa riqueza, o nosso bem maior.

“Porque ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja gado; Todavia eu me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus da minha salvação”. Essa passagem de Habacuque 3:17-18 é fantástica porque ela encerra a verdadeira promessa de Deus. Como ressaltou Pastor Pedro Chagas em uma de suas reflexões, o personagem bíblico não diz “o Deus das bênçãos”, “o Deus da minha prosperidade”, “o Deus das minhas conquistas materiais” e, nem mesmo, “o Deus da minha saúde”. Ele diz “o Deus da minha salvação”.

Por fim, lá em I Timóteo 6:10, está escrito: “Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores”. Que o Senhor continue nos abençoando e nos livrando dessa e de outras doutrinas malignas. Amém.

3 comentários:

Marcone França disse...

É triste que isto aconteça, mas acontece. Pastores políticos que se aproveitam das nescessidades de pessoas como a citada e fazem dai seus "meios de vida". Mas Deus, que conhece o coração, não vai deixar o José dos Santos Vidigal, ou qualquer outro que seja, desamparado.
Bom final de semana.
Abraço!

Jocimara Galvão disse...

Parabéns pelo texto. Muito bom. Esse troço é coisa do cão mesmo. Não tem nada a ver com Deus.

Andréa Machado disse...

Acho até que a Teologia da Prosperidade não foi criada, como defendem alguns, para abençoar ninguém. Penso que, desde o início, ela foi concebida para servir aos propósitos dos pastores que se travestem de bandidos.