terça-feira, 4 de agosto de 2009

A volta do filho mais velho

Todos nós ficamos maravilhados com o retorno do filho pródigo e a maneira absurdamente graciosa que o Pai o recebeu de volta ao lar. É uma parábola que toca nosso ser, nossos corações, uma vez que este filho impenitente representa todos nós: pecadores aceitos incondicionalmente pelo amor do Abba. No entanto, não costumamos prestar atenção que o filho mais velho também representa um outro aspecto do nosso relacionamento com Deus. É um filho igualmente perdido, todavia perdido dentro do lar, separado não pela distância geográfica, mas pela distância existencial e relacional.

Podemos ver o distanciamento do filho mais velho em relação ao pai no momento em que o filho pródigo retorna (e a festa começa): “Eis que há tantos anos te sirvo, e nunca transgredi um mandamento teu; contudo, nunca me deste um cabrito para eu me regozijar com meus amigos”. Quais são as características do filho mais velho que demonstram seu distanciamento com o Pai?

1 - Há tantos anos te sirvo... Está claro que, para o filho mais velho (crente de carterinha), o relacionamento com Deus é baseado no serviço. A lógica é “quanto mais servir a Deus, mais Ele me amará. E para tanto, basta ir a todos cultos, programações e vigílias”. Acontece que se a fé manifestar-se apenas no serviço eclesiástico, cedo ou tarde, tornar-se-á um enfadonho e cansativo ciclo. E mais: é pura jactância achar que podemos comprar o amor de Deus através de nossos esforços.

2 - Nunca transgredi um mandamento seu... Aquele que serve com o intuito de ganhar a Deus, certamente desenvolverá um elevado conceito de si mesmo. O filho mais velho tinha a certeza de que nunca tinha transgredido um mandamento do Pai. É flagrante a auto-justificação. E quem envereda por este caminho torna-se um religioso fundamentalista e moralista implacável. A partir de sua suposta santidade, ele julga como "pródigo" todo aquele que não está em seu nível de santidade. Quando o filho pródigo voltou, ele foi o primeiro a questionar a falta de uma correção firme do Pai. Logo depois, se afastou deles. Por incrível que pareça, o filho mais velho achava que tanto o pródigo quanto o Pai estavam sujos e contaminados pelo pecado.

3 – Contudo, nunca me deste um cabrito para eu me regozijar com meus amigos...Definitivamente, o personagem secundário da parábola não conhecia o Pai. Morava na mesma casa, mas em uma dimensão diferente. O filho mais velho tinha a ideia fixa de que servir ao Pai era seguir uma lista estóica de "não podes". Era impensável festejar enquanto o Pai estivesse vivo. Quando o filho prostituto voltou com festividades, ele entrou em choque. Como assim? festa, bebida, comida? Como assim? ele é crente e toma um golinho de vinho, assiste novela, ouve música secular, vai ao estádio, cinema e teatro? Pior, faz tudo isto e o Pai não diz nada? E eu aqui, todo certinho, crentinho, santinho...A GRAÇA É UM ESCÂNDALO!!!

A parábola não revela, mas o filho mais velho pode ter tomado duas atitudes. A primeira é: vou me aproximar de meu Pai e conhecê-lo verdadeiramente, não segundo a caracterização farisaica introjetada pela religião. Hoje mesmo chamarei o meu irmão e meu Pai para celebrarmos a vida. A segunda: vou me distanciar desses libertinos e deste Pai permissivo, que aceita os caídos e doentes, sem uma correção exemplar. Eu tomei a minha decisão. E você? Fonte: Soli Deo Gloria.

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