sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Manifestações do Espírito Santo?

Pra início de conversa, quero deixar claro que creio na contemporaneidade dos dons espirituais. Em outras palavras, não sou cessacionista. Os dons devem permanecer na igreja até que tenhamos chegado à perfeita varonilidade, à estatura de Cristo (Ef.4:13). A meu ver, ainda estamos longe disso. Entretanto, considero uma blasfêmia atribuir certas manifestações bizarras ao Espírito de Deus.

Tem sido deprimente assistir pelo Youtube a cultos onde as pessoas são tomadas de êxtase, girando de um lado pro outro, em gestos e expressões corporais muito parecidos com os encontrados no candomblé. Por que razão o Espírito Santo, meigo do jeito que é, levaria pessoas a se contorcerem no chão, ou a descaracterizarem suas fisionomias?

O Apóstolo Paulo afirma que as manifestações do Espírito são para aquilo que for útil (1 Co.12:7). Então, que utilidade tem derrubar as pessoas? Que utilidade tem ficar rodopiando pelo salão da igreja? Recuso-me a crer que tais bizarrices sejam provocadas pelo Espírito de Deus. Você imaginaria os discípulos de Jesus fazendo tais coisas? Ou mesmo Jesus, o Filho de Deus, com Sua face desfigurada, falando em línguas aos berros?

Tais manifestações devem ser atribuídas à infantilidade de alguns crentes. Não duvido de sua sinceridade, nem mesmo ponho em xeque sua experiência com Deus. Porém, a maneira como extravasam suas experiências se deve mais ao condicionamento adquirido em suas congregações. Se numa determinada igreja, as pessoas possuem manias excêntricas de expressar o gozo do Espírito, um novo crente acabará assimilando os seus trejeitos.

Há também uma pitada generosa de exibicionismo. Em certas comunidades, a espiritualidade é aferida pelo volume do grito, ou pela habilidade em sapatear de olhos fechados. Isso acaba produzindo gente doente, que no afã de chamar atenção, é capaz de qualquer coisa, por mais ridícula que seja. E o pior é o escândalo que isso pode provocar na comunidade.

Paulo diz que nosso culto a Deus deve ser racional (Rm.12:1), e que devemos deixar de lado as coisas de menino (1 Co.13:11). Em vez de pular, rodopiar, fazer caras e bicos, que tal nos prostrar diante do Senhor e adorá-lO em espírito e em verdade? Ademais, Jesus disse que o Espírito Santo não chamaria a atenção para Si mesmo, mas para Cristo (Jo.16:13-14). Ele é como um holofote sobre Jesus, e não Alguém que queria ser o centro das atenções. Por isso, Ele costuma ser tão discreto. Fonte: Hermes Fernandes.

4 comentários:

Alex Malta Raposo disse...

Fantástico esse texto de Hermes Fernandes. Não tenho respostas para certas atitudes adotadas nos últimos tempos por alguns irmãos, que passaram a rugir como leão, andando de quatro, e a lavar os pés, jogando a água (seria água benta?) em outras pessoas. Loucuras lamentáveis.

Éverton Vidal disse...

Vale salientar que apesar de todos os defeitos e tendências modernas assustadoras o pentecostalismo foi/é um movimento importantíssimo. Talvez o mais importante do século XX. Pois quando a igreja de uma certa forma estava imersa numa vivência exageradamente racional o pentecostalismo surgiu valorizando os dons do Espírito e as emoçoes. A conversao também inclui as emoçoes nao é verdade?

E esse "vendaval do Espírito" que o pentecostalismo trouxe com um tempo influenciou os movimentos carismáticos das igrejas protestantes históricas, e inclusive chegou aos setores católicos, coptas e ortodoxos. Entao nao é só defeito no pentecostalismo, há muitas virtudes.

Lembro-me de um professor presbiteriano muito sensato que tive na faculdade de teologia, ele certa vez disse na sala: eu posso encontrar uma coisa boa até no Benni Himm que vocês criticam: Ele trata o Espírito Santo como uma pessoa de fato, e nao como uma mera "força", como muitos sem querer o fazem".

Abraço.
Inté!

Jeanne disse...

Reconheço que, de fato, o pentencostalismo tem sim seus acertos e virtudes, como o reavivamento que produziu no passado.

Contudo, acho completamente esdrúxulo e até mesmo herético a valorização absurdamente exagerada que se dá aos dons em detrimento do próprio doador desses dons e a fragmentação da Trindade, já que nas igrejas pentencostais e neopentencostais praticamente só a figura do Espírito Santo é buscada e vivida.

Outro ponto que creio ser negativo nesse movimento é a ausência de equilíbrio e de racionalidade , onde a espiritualidade é medida pela glossolalia, pelas danças "em mistério", pelos gritos cruciantes e pelo pulos frenéticos

Com toda humildade me permito discorda do Everton, figura a quem muito admiro e prezo, quando diz que a conversão tb inclui emoção. Sinceramente creio que o novo nascimento, que é a maior e mais signficativa decisão que tomamos na vida, deve ser totalmente racional, bem como a caminhada que se segue a ela. Não que o discípulo de Cristo não possa ter tocado nas suas emoções, mas elas decidamente não podem nortear a vida do cristão, sob pena de faltando elas virem o esmorecimento e o esfriamento espiritual.

Alex Malta Raposo disse...

Éverton,

Concordo com vc (com exceção da conversão baseada na emoção. A conversão e o culto devem ser racionais). No entanto, o que o texto quer destacar como realidades hodiernas negativas são as invencionices, os produtos bizarros, os espetáculos formatados inteiramente fora de qualquer contexto (e texto) bíblico. No mais, é pedir a Deus que esse 'vendaval' citado por você continue nos influenciando e falando poderosamente aos nossos corações.

Forte abraço.