segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O Deus de sempre - Parte II

Neste artigo, gostaria de continuar minha humilde reflexão sobre o fato, eterno e incontestável, de que o Deus de hoje continua sendo rigorosamente o mesmo Deus de ontem. Na primeira parte da presente reflexão, enfatizei algumas das bênçãos que Deus vem derramando nas nossas vidas ao longo dos últimos milênios, destacando, também, a inalterabilidade de Seu amor, misericórdia e fidelidade. Por outro lado, no artigo anterior, advoguei a tese de que, se o Altíssimo continua o mesmo, nós, Seus filhos, pioramos sensivelmente. E pioramos porque já não temos o mesmo compromisso com a Obra, já não falamos de Jesus com a mesma intrepidez, já não somos tão fiéis à Sua Palavra, já não ganhamos dias e noites em oração como nossos antepassados.

Ainda levando em consideração o “agir” de Deus, nesta segunda parte do já citado artigo, e deixando as bênçãos um pouco de lado, desejo abordar, de forma bastante breve, a chegada das horas tortuosas, dos dias ruins e das grandes tempestades. Ao utilizar Romanos 8:28 (poderíamos nos valer de uma infinidade de outros textos), trilhamos um caminho maravilhoso para entendermos os momentos de aflição impostos aos filhos de Deus. Pois, se “todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus”, com certeza, até mesmo o sofrimento ganha um inequívoco status de instrumento divino.

Mesmo nos momentos difíceis, mesmo nas amargas decepções, mesmo nas mais duras encruzilhadas da existência, Deus estará trabalhando em meio a essas situações para cumprir Seus decretos e desígnios. “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo” (Salmo 23). A convicção do salmista precisa estar verdadeiramente presente em nossos corações. Mesmo que eu perca um ente querido, mesmo que eu adquira uma enfermidade grave, mesmo que a ruína financeira bata à porta, o Senhor dos Exércitos estará comigo para me ajudar a enfrentar esse momento.

É assim que nós devemos ver o sofrimento.

Acho incrível quando pessoas, inclusive algumas que caminham com o Senhor há vários anos, murmuram diante dos problemas mais banais, das dificuldades mais corriqueiras, dos desertos mais amenos. O sujeito perde o emprego e pergunta: “por que eu? O que eu fiz de errado para merecer uma tempestade como essa?” A cidadã acorda com dor de cabeça pelo segundo dia consecutivo e brada: “Deus, eu não agüento mais sofrer. Se for para continuar assim, prefiro que o Senhor me leve logo”.

Mas não é só o murmurador nato que me chama atenção. Tento aprender também com aqueles que, estando verdadeiramente no deserto, ainda não conseguiram entender a diferença entre punição e correção, tampouco aceitar a dor como via de evolução ou ver no sofrimento uma chance de perceber realidades espirituais inalcançáveis na comodidade de suas existências.

Para todos esses, a Bíblia lembra que Deus não livrou Daniel ‘da’ Cova dos Leões, mas o livrou ‘na’ Cova dos Leões (Daniel 6:16). Não teria sido mais fácil para Deus fulminar o Rei Dario e seus soldados, evitando que Seu servo tivesse o desprazer de passar uma noite inteira na companhia de leões? Com certeza. Mas precisou ser assim para que a glória Dele fosse manifestada.

Da mesma forma, ao ser informado que Lázaro estava enfermo, porque Jesus não foi ao encontro dele e da família imediatamente? Na impossibilidade de ir à casa do irmão de Marta e Maria, porque não o curou de onde estava? As Escrituras dizem que, ao tomar conhecimento do estado de seu amigo, Jesus ainda ficou dois dias no mesmo lugar. Se o Senhor tivesse agido imediatamente não teria evitado dois dias de dor, tristeza, angústia e sofrimento?

Nesse contexto, outro bom exemplo é Paulo. O sujeito largou conforto, tranqüilidade e segurança material para espalhar o Evangelho de Cristo entre os gentios, sofrendo, por conta disso, toda sorte de infortúnio, incluindo fome, prisões, torturas e naufráfios. Mesmo com esse histórico, quando pediu a Deus para desviar dele o famoso ‘espinho na carne’, após orar três vezes, o que foi que ele ouviu do Altíssimo? “a minha graça te basta”.

E o que dizer de Jó, “homem sincero, reto e temente a Deus” e que, por amor ao Seu nome, “se desviava do mal”? Apesar de ser servo do Senhor, foi provado até o limite de suas forças, perdendo, com exceção da vida, tudo o que possuía: família, bens materiais e, até mesmo, a própria saúde.

Por fim, o que dizer dos apóstolos? Além de uma vida de privações, os grandes heróis da fé, do cristianismo e da igreja primitiva morreram, quase todos, de forma brutal. Sabemos que o único apóstolo cuja morte está registrada na Bíblia é Tiago (Atos 12:2). O rei Herodes “o fez passar a fio de espada” - aparentemente uma referência à decapitação. As circunstâncias da morte dos outros apóstolos, entretanto, só podem ser conhecidas baseadas nas tradições da igreja. Segundo elas, Pedro foi crucificado, de cabeça para baixo, em uma cruz em forma de x, em Roma, cumprindo a profecia de Jesus (Jo 21:18).

Ainda segundo essas mesmas tradições, Mateus sofreu martírio na Etiópia, sendo morto em conseqüência de um ferimento causado por uma espada. Tiago, o irmão de Jesus (não oficialmente um apóstolo), o líder da igreja em Jerusalém, foi atirado de mais de 30 metros de altura do alto do pináculo sudeste do Templo ao reafirmar sua fé em Cristo. Quando seus inimigos descobriram que ele havia sobrevivido à queda, o espancaram até a morte.

Bartolomeu, também conhecido como Natanael, foi missionário na Ásia. Ele testemunhou onde hoje é a Turquia, sendo martirizado pela sua pregação na Armênia, quando foi chicoteado até o último suspiro. André morreu em uma cruz em forma de x na Grécia. Após ter sido chicoteado severamente por sete soldados, estes ataram o seu corpo à cruz com cordas para prolongar a sua agonia. Seus seguidores reportaram que, quando ele foi levado em direção à cruz, disse as seguintes palavras: “Muito desejei e esperei por esta hora. A cruz foi consagrada pelo corpo de Cristo pendurado nela”. O apóstolo Tomé foi atingido por uma lança na Índia durante uma de suas viagens missionárias para estabelecer a igreja naquele país. Por fim, Matias, o apóstolo escolhido para substituir Judas Iscariotes, foi apedrejado e depois decapitado.

Nota: Não é tão importante saber como os apóstolos morreram. O que importa é o fato de que todos eles estavam dispostos a morrer pela sua fé. Se Jesus não tivesse ressuscitado, os discípulos o saberiam. Ninguém morreria por uma mentira. O fato de que todos os apóstolos estavam dispostos a morrer, recusando-se a negar a sua fé, é uma tremenda evidência de que eles testemunharam a ressurreição do nosso Senhor.

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