terça-feira, 1 de setembro de 2009

Vinda do Seringal

"Quando os justos governam, alegra-se o povo; mas quando o ímpio domina, o povo geme", Provérbios 29:2. Muito interessante a entrevista que a senadora Marina Silva concedeu à Revista VEJA. Gostei bastante da sua postura, das suas idéias e da sua inegável coerência. Sempre conciliadora, mas, ao mesmo tempo, firme; Cônscia do potencial do país, mas, igualmente, atenta às suas dificuldades; Sabedora do caminho árduo até à Presidência da República, mas sempre evitando o “discurso fácil” e, como ela mesma disse, “a demonização de quem quer seja”. Destaco, a seguir, alguns trechos bastante elucidativos sobre a personalidade da senadora, algumas de suas propostas, o seu ideal ético e, sobretudo, a sua fé cristã.

Faço questão absoluta de ressaltar, entretanto, que não voto em candidatos apenas por serem evangélicos. Voto naquele que, do ponto de vista da competência, da moralidade e do compromisso com as causas populares, reúne todas as condições para construir um bom mandato. Agora, entre dois candidatos igualmente competentes, éticos e compromissados (virtudes cada vez mais difíceis de serem encontradas), evidentemente que o servo do Senhor Jesus ficará com o meu voto. Fui claro?

Sobre sua candidatura.

Os jovens estão começando a reencontrar as utopias. Estão vendo que é possível se mobilizar a favor do Brasil, da sustentabilidade e do planeta. Minha geração ajudou a redemocratizar o país porque tínhamos mantenedores de utopia. Gente como Chico Mendes, Florestan Fernandes e Paulo Freire, que sustentava nossos sonhos e servia de referência. Agora, aos 51 anos, quero fazer o que eles fizeram por mim. Quero ser mantenedora de utopias.

Sobre sua saída do PT

O PT teve uma visão progressista nos seus primeiros anos de vida, mas não fez a transição para os temas do século XXI. Isso me incomodava. O desafio dos nossos dias é dar resposta às crises ambiental e econômica, integrando duas questões fundamentais: estimular a criação de empregos e fomentar o desenvolvimento sem destruir o planeta. O crescimento econômico não pode acarretar mais efeitos negativos que positivos. Infelizmente, o PT não percebe isso. Cansei de tentar convencer o partido de que a questão do desenvolvimento sustentável é estratégica.

Sobre a crise moral vivida pelo PT

Os erros cometidos pelo PT foram graves, mas estão sendo corrigidos e investigados. Quando da criação do PT, eu idealizava uma agremiação perfeita. Hoje, sei que isso não existe. Minha decisão não foi motivada pelos tropeços morais do partido, mesmo porque eles foram cometidos por uma minoria. Saí do PT, repito, por falta de atenção ao tema da sustentabilidade.

Sobre o embate com Dilma Rousseff

Não vou me colocar numa posição de vítima em relação a Dilma. Quando eu era ministra e tínhamos divergências, era o presidente Lula quem arbitrava a solução. Não é por ter divergências com Dilma que vou transformá-la em vilã. Acredito que o Brasil pode fazer obras de infraestrutura com base no critério de sustentabilidade. Temos visões diferentes, mas não vou fazer o discurso fácil da demonização de quem quer que seja.

Sobre a descriminação da maconha

Não sou favorável. Existem muitos argumentos em favor da descriminalização. Eles são defendidos por pessoas sérias e devem ser respeitados. Mas questões como essa não podem ser decididas pelo Executivo, e sim pelo Legislativo, que representa a sociedade. A minha posição não será um problema, porque o PV pretende aprovar na próxima convenção uma cláusula de consciência, para que haja divergências de opinião.

Sobre Barack Obama

Eu também sou negra, mas seria muito pretensioso da minha parte me colocar como o Obama. Ele é uma inspiração para todas as pessoas que ousam sonhar. A questão racial teve um peso importante na eleição americana. Mas os Estados Unidos têm uma realidade diferente da do Brasil. Eu nunca fui vítima de preconceito racial. Por outro lado, creio ser legítimo que as pessoas decidam votar em alguém por se identificar com alguma de suas características, como o fato de ser mulher, negra e de origem humilde. Mas seria oportunismo explorar isso. O Brasil é marcado pela diversidade étnica e deve conviver com as suas diferentes realidades. Nós temos de aprender a nos relacionar com as diferenças, e não estimular a divisão.

Sobre a política de cotas raciais

Há quem ache que as cotas levam à segregação, mas eu sou a favor de que se mantenha essa política por um período determinado. Acho que há, sim, um resgate a ser feito de negros e índios, uma espécie de discriminação positiva.

Sobre sua conversão

Fui católica praticante por 37 anos, um aspecto fundamental para a construção do meu senso de ética. Meu ingresso na Assembleia de Deus foi fruto de uma experiência de fé, que não se deu pela força ou pela violência, mas pelo toque do Espírito. Para quem não tem fé, não há como compreender. Esse meu processo interior aconteceu em 1997, quando já fazia um ano e oito meses que eu não me levantava da cama, com diagnóstico de contaminação por metais pesados.

Sobre o criacionismo

Eu creio que Deus criou todas as coisas como elas são, mas isso não significa que descreia da ciência. Não é necessário contrapor a ciência à religião. Há médicos e cientistas que, apesar de todo o conhecimento científico, creem em Deus.

Sobre o aborto

Não julgo quem o faz. Quando uma mulher recorre ao aborto, está em um momento de dor, sofrimento e desamparo. Mas eu, pessoalmente, não defendo o aborto, defendo a vida. É uma questão de fé. Tenho a clareza, porém, de que o estado deve cumprir as leis que existem. Acho apenas que qualquer mudança nessa legislação, por envolver questões éticas e morais, deveria ser objeto de um plebiscito.

Sobre suas dificuldades para enfrentar a corrida sucessória

Se for mesmo candidatada, encontrarei forças no mesmo lugar onde busquei nas quatro vezes em que cheguei a ser desenganada: na fé e na ciência.

6 comentários:

Marinho disse...

Foi claríssimo Alex. E eu concordo contigo. Gosto dessa mulher. Acho que ela pode ser uma belíssima opção em 2010. Marina neles!

Andréa Machado disse...

Estava inclinada a votar no José Serra, mas com a entrada de uma mulher, vencedora, competente e ainda por cima cristã. Ah...Já foi. Sou Marina.

Larissa Ferraz disse...

Gostei muito da entrevista dela também à VEJA. Mesmo que ela não consiga, com certeza, levará uma mensagem bonita acerca do Evangelho. Acho que nós, crentes, temos a obrigação de apoiá-la. Desculpe, Alex. Até entendo o seu comentário. Mas acho que precisamos marchar com ela.

Alex Malta Raposo disse...

Sem problemas, Larissa. Até porque acho que vc entendeu o que eu quis dizer. Se durante a corrida sucessória, eu ficar convencido de que ela, efetivamente, tem condições de pilotar este país, não tenha dúvida de que cravarei Marina nas urnas. Mesmo sabendo que Serra é muito preparado. Deus abençõe.

Patrício Figueira disse...

Não sei não. Torço por ela. Mas fica a pergunta: como ela lidará com o fisiologismo que hoje caracteriza o Congresso Nacional?

Patrício Figueira disse...

Uma vez eleita, precisamos orar para que ela não seja engolida pelo sistema. Uma outra coisa. Não dá para falar apenas sobre sustentabilidade. Um governo é feito de outros temas e necessidades.