Uma das melhores analogias feitas até hoje com a igreja (Obviamente, a igreja institucionalizada e não a igreja espiritual) é aquela que a compara à Arca de Noé. Como sabemos, a Arca do pai de Sem, Cam e Jafé ficou fechada por cerca de 150 dias (incluindo os 40 dias do dilúvio). Fácil imaginar, então, que o cheiro lá dentro beirava à insuportabilidade. Tentem imaginar a dificuldade de habitar um local por cinco meses ao lado de dezenas de animais, que, a exemplo das pessoas, faziam suas necessidades fisiológicas ali mesmo. Todavia, apesar do cheiro insuportável, do provável desconforto e da rotina massacrante, a Arca representava a ‘vida’, enquanto que o lado de fora significava a ‘morte’.
Com a igreja física acontece mais ou menos a mesma coisa. Apesar de todos os problemas que a acometem, da perda de inúmeros valores e do mau-cheiro reinante, fruto da nossa miserabilidade congênita, melhor é estar acolhido por ela do que estar agasalhado pelo mundo, que oferece prazeres incontestáveis, mas que, também, nos conduz, de forma gradual, mas de maneira inexorável, ao padecimento eterno.
Desnecessário reafirmar minha crença na necessidade de uma volta aos tempos da igreja primitiva, quando as práticas eram outras, quando a seriedade existia em grau muito maior e, sobretudo, quando o amor era um fim em si mesmo.
No entanto, essa é uma outra discussão. Algumas de minhas impressões sobre o assunto, aliás, podem ser encontradas no artigo “Reformar ou regressar”, publicado no último dia 20 de outubro. O que quero salientar, proclamar e reforçar aqui é que a igreja que instrui, que abençoa, que corrige, que enriquece e que fortalece deve ser respeitada e, porque não dizer, amada.
Trabalhar para reformá-la (como querem alguns) ou para revolucioná-la (como desejam outros) é um desiderato quase que unânime. No entanto, bem melhor que um ou outro caminho é reafirmar essa necessidade através da adoção de novas posturas, de novas práticas, de novos comportamentos. Seja como for, e considerando a igreja muito mais como ‘ajuntamento de pessoas do que como uma organização eclesiástica’, vale lembrar aquela velha história da brasa retirada da fogueira. Seu destino, certo e inevitável, é se apagar, é se exterminar, é virar cinzas.
6 comentários:
Nunca tinha pensado ou ouvido essa linha de raciocínio. Muito inteligente. É por aí mesmo...
Melhor é estar lá dentro. O lado de fora, com todos os seus atrativos e adornos, só nos oferece o abismo, ainda que ele venha emoldurado por pétalas...
Que o Senhor derrame sobre nós muita misericórdia para que nós tenhamos a mesma misericórdia por nossos irmãos e por nós mesmos.
Afinal de contas, somos tão pecadores e miseráveis quanto todos que lá estão.
Além de tudo que vc colocou, e que eu concordo plenamente, destacaria ainda um outro fator: a convivência com o pecado, que provoca a desilusão, o desgaste e o desencanto. Infelizmente, na igreja física também encontramos tudo que detectamos no mundo: mentira, orgulho, inveja, adultério, ira, raiva, dissimulação, ressentimento...
Conviver com tudo isso também é terrível, mas, como vc colocou, é necessário. Precisamos estar lá, apesar de todos os problemas.
Sem dúvida, Patrício. Esse é outro ponto importante da reflexão. E o drama é que essa é uma convivência obrigatória, a exemplo do que acontecia com os integrantes da Arca. Simplesmente, não temos para onde ir. Não temos um lugar melhor.
De todas as abordagens que já li sobre a necessidade da igreja em nossas vidas, ainda que com todos os seus problemas, essa foi uma das mais inteligentes. Parabéns.
Obrigada pela sua visita ao nosso blog e estímulo.
Conheci o seu também. Sua postagem sobre igreja me alegrou...
Os que esquecem que a igreja é a noiva de Cristo são aqueles que Deus não pode contar com eles, portanto a difamam em vez de como Elias tratar de levar o povo a reconhecer que só o Senhor é Deus.
Que Deus nos ajude a deixá-Lo contar conosco sempre. Abraço.
Demais esse texto.
Fiquei impressionado com a reflexão. Muito legal.
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