Já tive vários deuses. Ou, pelo menos, vários modelos de Deus. Quando criança, o relacionava ao Papai Noel. Um velhinho de barba e cabelo grisalhos que saía todos os anos do Pólo Norte, apenas e tão-somente, para me dar no Natal o presente desejado. Na adolescência, passei a ver Jesus, o Deus encarnado, como um hippie revolucionário. ‘Um deus paz e amor’. Um sujeito, que a exemplo de outros tantos, compareceu ao Festival de Woodstock para reverenciar a contracultura. Naquele tempo, de vez em quando, ele assumia uma postura mais radical e pretensamente heróica. Que adolescente não teve no seu quarto aquele pôster famoso do Ernesto Che Guevara?
Mas, para além das primeiras inquietações, a desorientação chegou mesmo na fase adulta. Alguém já disse que, para construir uma existência minimamente funcional, o homem precisa responder às perguntas formuladas na infância e na adolescência. No que se refere a Deus, é aí que a coisa pega.
Na Faculdade, acossado pelas perguntas não respondidas no passado, acabei buscando na literatura universal, principalmente na filosofia, um pouco de alento para minhas aflições. Por muito tempo, o deus que habitou o meu coração foi o deus que não ofendia as letras, a razão e o conhecimento. O deus que se coadunava com a cultura não precisava ser escondido. Pelo contrário. Nas rodas universitárias, ele podia ser até apresentado, transformando-se, quase sempre, em foco de debates.
Só que esse deus não preenchia o que se convencionou chamar de ‘vazio existencial’. Afinal, era um deus que servia apenas para mostrar aos meus amigos o quanto eu era ‘lido e inteligente’. E isso acontecia quando eu o vinculava aos filósofos ocidentais, como Platão, Sócrates e Aristóteles, aos grandes escritores, como os russos Tolstói e Fiódor Dostoiévski, ou, ainda, à música erudita, defendida por nomes como Brahms, Wagner e Mozart.
Logo depois da Faculdade, a igreja católica acabou sendo o caminho natural. Enjoado do ‘deus cult’, criado por mim para atravessar o período universitário sem ser objeto de escárnio, optei pela crença nominal de meus pais e avós. Com o tempo, percebi que aquele deus também não preenchia a minha vida e, muito menos, conseguia responder aos meus questionamentos mais elementares. Era um deus físico. Materializado nas imagens. Mas que, como sabemos, não falava, não interagia.
Muito em virtude ainda da minha preocupação com tudo aquilo que possui ares de refinamento intelectual, a próxima viela acabou sendo o espiritismo. Eu e Jeane (ainda namorados) chegamos a pegar emprestados de um casal de amigos vários clássicos da chamada literatura espírita. Entre eles, salvo engano, O Livro dos Espíritos, A Gênese e o Evangelho segundo o Espiritismo. Durante algum tempo, achei, marcado pela mais absurda ignorância, que a reencarnação era a melhor resposta para algumas das questões centrais da existência, como a morte e o sofrimento. O interessante é que, por misericórdia divina, nunca conseguimos abrir nenhum daqueles livros. Eles vieram fechados e voltaram fechados. Apesar do breve convívio, também não gostei daquele deus que impõe a ‘seus filhos’ a purgação dos pecados através de diversas reencarnações, buscando a evolução espiritual através das boas ações.
Nessa fase de procura, acho que só não tive (até em função da minha personalidade pragmática) a infelicidade de flertar com religiões de predominância filosófica, como o budismo, de lastro ocultista, como o Candomblé e a Umbanda, ou de cunho esotérico, como a Cabala e o Santo Daime.
Entre essas experiências e o encontro com Cristo, ainda tive a oportunidade de conhecer outros deuses, todos tão pequenos quantos os anteriores. Nos anos imediatamente anteriores à minha conversão, conheci o deus que se confunde com sua própria criação; o deus que não interfere na vida de ninguém, nem para o bem, nem para o mal; o deus que para criar o mundo precisou da ajuda do diabo; e o deus que não honra sua palavra.
Hoje sei que Deus permitiu que eu conhecesse algumas de Suas muitas caricaturas para que, nos dias hodiernos, eu tivesse o prazer e a alegria de oferecer adoração ao único, suficiente e verdadeiro Senhor. Glória ao Deus de Abraao, Isaque e Jacó que, pela Sua infinita misericórdia e amor incondicional, me resgatou da morte, da incoerência, da escuridão e da ignorância, transmutando-me, através de Cristo Jesus, de criatura perdida para filho remido, justificado e eternamente salvo.
A Ele, Deus eterno, toda honra, glória e adoração.
16 comentários:
Cara, você manda bem mesmo...Fantástico o seu artigo...passei, ao longo de minha vida, muita coisa parecida...já tive experiências até com o hinduísmo...pode?
Deus muito te abençõe, irmãozinho.
Alex, acho muito legal a forma como você escreve e descreve os principais aspectos que gravitam em torno da vida dos cristãos. Sempre de forma leve (sem ser superficial), didática (sem ser chato) e objetiva (sem ser prosaico). É um texto que flui, que estimula a leitura. Deixando um pouco de lado seu conhecimento, parabenizo seu talento genuíno para escrever. Vc só poderia ser jornalista mesmo. Simplesmente maravilhoso o texto. Mais uma vez, fui muito abençoada. Até a próxima.
Zeca e Mariana, muito obrigado pelos comentários e, sobretudo, pelos elogios, que, como destaca um amigo, devem servir para que nós, cristãos, façamos sempre o melhor para Deus, jamais para que sejamos contaminados pela vaidade.
Forte abraço.
Alex, ao ler o seu artigo, vi um filme passar na minha cabeça. Morri de rir ao lembrar que eu também tive no meu quarto aquele poster famoso do Che. E que, como todo mundo que nasceu nos anos sessenta, também viajei na contracultura de Woodstock, mesmo sem ter pisado naquela fazenda.
Como a Mariana escreveu, também gosto dos seus artigos em virtude da fluidez das palavras. Conheço, até, alguns blogs recheados de artigos e estudos maravilhosos, mas, às vezes, dá uma preguiça. São textos loooongos, compridos, que não acabam mais. Uma de suas qualidades é conseguir sintetizar as coisas num texto mais ágil.
Mais uma vez, parabéns.
Larissa, repito as mesmas palavras. Muito obrigado. Mas, como jamais poderemos esquecer, toda glória seja dada a Deus. Que o Senhor a abençõe.
Concordo com vc. Mas, não há nenhuma ofensa a Deus ou a Bíblia em aceitar um elogio sincero e construtivo. Deixe de coisa.
Rs. Tá certo.
Também concordo com todo mundo. Seus textos são muitos bons. Já usei até alguns aqui na minha igreja, durante a EBD. Os mais elogiados foram Judaizando a Graça e a Lâmina da Destruição. Não falo isso para que vc ou qualquer outro dono de blog fique se achando, mas para que se sintam, como eu me sinto, instrumento de Deus para abençoar outras pessoas. Vc tem que ver a coisa por aí. Que o Pai continue te abençoando.
A geração de hoje também deve passar por vários tipos de deuses até conhecer a VERDADE! O ruim é que muitas vezes isso se dá num só gueto: o gospel, gochpel!! É um tal gezuiz aí o culpado...
Quantos desses deuses que você encontrou durante a sua vida hj estão dentro de uma instituição evangélica né? Infelizmente...
Graças a Deus por Jesus Cristo (o original!!) que nos encontra nessa caminhada não é?
Grande abraço!!
E receba outro elogio: também gosto muito da maneira como você escreve!!
É isso Kadu...
Infelizmente, o Jesus da Bíblia, que foi e sempre será o Senhor da Graça, do amor e do perdão, não reside em todos os templos e, o que é pior, em todos os corações.
Obrigado pelo comentário.
Obrigada pela visita, passei para agradecer...voltarei.
Alex,
Já dizia Agostinho que todo homem tem um vazio do tamanho de Deus.
Sendo assim, só Deus mesmo pode preenchê-lo.
Excelente texto.
Anderson
www.gracasomente.blogspot.com
Olá Alex!
Um texto que traz a memória minhas "vidas passadas", fui seguidor do deus que lutava contra macumba, o deus das barganhas, depois do deus libertador dos oprimidos da TL até chegar a compreensão e a alegria de seguir o Deus de toda graça revelado em seu filho que me reconciliou com Pai.
Tudo foram fases e o que aprendi com essas fases foi principalmente a entender e amar aqueles que ainda não enxergaremo esse Deus maravilhoso por estarem atrás de modelos que não refletem a verdadeira identidade e o caráter de Deus.
Se hoje vejo foi por revelação espiritual, pois por mim mesmo não teria condições enxergar.
Isso é Graça!
Parabéns pelo texto e obrigado pela visita.
Graça e Paz!!
Ola Alex,Paz! Agrdeço sua visita no meu humilde e seu comentario em um dos meus posts, parabéns pelo blog e pelos artigos postados.
Fraternalmente em Cristo!
Pr. Ismael Mariano Vieira
Larissa: dei boas gargalhadas com o seu puxão de orelha com Alex...rsss. Achei muito engraçado! Bjos.
P.S. Estou um tempo sem escrever primeiro porque não tenho a mesma habilidade do meu maridinho e segundo por escassez de tempo mesmo... vc bem sabe o que é a maratona de ser mãe, profissional, dona de casa e esposa não é?
Rs. Acho incrível, Jeane, como nós, cristãos, temos a dificuldade de lidar com elogios. Já passei por situações como essa. Durante muito tempo, fui coordenadora de um projeto social na minha igreja. Por conta dos bons resultados, as pessoas viviam fazendo elogios. No começo, achava aquilo estranho. Naquele tempo, ficava toda bolada. Lembrava da frase dita pelo Alex. 'Toda glória seja dada a Deus'. Atualmente, não vejo mais as coisas assim. Evidentemente, continuo concordando plenamente com essa palavra, linda e eterna. Todos nós sabemos que Deus não divide Sua glória com ninguém. No entanto, o que se está considerando aqui é outra coisa. Estamos falando de estímulo, de alento, de carinho por alguém que, como instrumento do Senhor, atende ao Seu chamado, sendo, por isso, vaso de bênçãos. É assim que, hoje, encaro eventuais elogios.
Beijo grande e que o Deus que hoje nos abençoa e que um dia nos receberá na glória continue cada vez mais presente em nossas vidas.
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