sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O Deus de sempre

Nestes meus dez anos de caminhada cristã, alguns deles altivos, muitos outros trôpegos, uma coisa sempre me intrigou: a percepção equivocada de inúmeros irmãos de que o Deus de hoje, em comparação ao Deus de ontem, se recolheu, se apequenou, se tornou refém dos grandes feitos do passado.

Para muitos cristãos contemporâneos, o Deus que abriu o Mar Vermelho hoje mal consegue descolar um emprego; a força única que fez o mundo desaparecer durante o dilúvio para varrer o pecado da face da Terra, contenta-se, atualmente, em ministrar pequenas correções; o Deus que realizou centenas de milagres, fazendo pessoas voltarem a viver, a ver e a andar, hoje se esforça para derramar do Seu trono módicas e fortuitas bênçãos. Para essas pessoas, o ‘Deus grande’ ficou no Antigo Testamento ou, no máximo, nos dias terrestres de Jesus.

Na verdade, Deus continua sendo o mesmo. Nós, Seus filhos de hoje, é que já não somos os homens e mulheres de antigamente. Quem, nos tempos hodiernos, faria o que Abraão fez, quando largou tudo, “terra e parentela”, para, movido unicamente pela fé, buscar uma terra que Deus iria mostrar? Quem, nos nossos dias, é capaz de orar como Elias, que, num dia de céu limpo, conseguiu obter de Deus “uma nuvem pequena como a palma da mão do homem”, para contemplar, na sequência, uma “grande chuva”? Quem, em pleno século XXI, abriria mão de uma vida confortável para enfrentar fome, prisões, naufrágios, perseguições e toda sorte de infortúnio como Paulo? Quem continuaria bendizendo a Deus mesmo depois de ver perecer toda a sua família, perder os seus bens e virar um arsenal humano de feridas como Jó?

A verdade é que falta fé, busca e intimidade.

Falta viver em função da vontade do Altíssimo.


Falta experimentar uma vida construída em favor dos outros e não orientada pelos nossos próprios desejos, instintos e projetos.

Querem ver? Que reação costumamos ter quando nos depararmos com um mendigo sujo e doente? Nenhuma. Ou por outra. Normalmente, a mais pura indiferença. É assim que um imitador de Cristo deveria agir? Como cristãos que ‘negam a si mesmos e tomam a cada dia a sua cruz’, não deveríamos alimentá-los, vesti-los e cuidar deles? E porque não fazemos isso? “Vendiam os seus bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. Partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração", Atos.

Então, quem mudou? Deus ou nós?

Nos tempos de hoje, por maior que seja a procura, jamais conseguiremos encontrar (incluindo cada um de nós) pessoas capazes de renunciar (verdadeiramente) a si mesmas, ou dispostas (verdadeiramente) a levar nos ombros as dores dos outros, ou a morrer (verdadeiramente) por Jesus.

O foco é a benção e não o Deus das bênçãos.

A mão estendida oferece justiça, jamais a graça.

O alvo é o Salvador, quase nunca o Senhor.


Por tudo isso e, principalmente, pelo que somos, rogamos a clemência do Pai. Por menor que seja a nossa fé, por maior que seja o nosso grau de infidelidade, por mais distantes que estejamos do trono da glória, resta-nos engrandecer o Seu nome e clamar pela Sua infinita e incompreensível misericórdia.

Quanto ao Seu poder, não tenham dúvida. Ele continua sendo o mesmo que, no passado, curou, resgatou, regenerou, transformou e elevou homens e mulheres, tão miseráveis como cada um de nós, mas que, com certeza, possuíam um coração onde havia infinitamente mais amor, graça, fé e compromisso.

12 comentários:

Mariana Echants disse...

Alex, que belo texto. Muito interesante a sua reflexão, com a qual, inclusive, concordo plenamente. Acho, apenas, que essa mudança nos filhos de Deus teve a contribuição do mundo atual, cheio de facilidades, atrativos e comodidades. O mundo da igreja do passado era bem mais reflexivo e muito menos materialista. Não é uma desculpa. É uma outra reflexão. Parabéns.

Márcio Valverde disse...

É exatamente isso, querido. Nós, filhos de Deus, pioramos sensivelmente. Quem ora do jeito que os crentes de antigamente oravam? quem lê a Bíblia com a mesma intensidade? quem possui, neste mundo marcado pela frouxidão espiritual, o compromisso que a Igreja primitiva tinha com a obra do Senhor? Vc foi muito abençoado ao escrever esse texto. Deus continua sendo o mesmíssimo Deus; nós é que ficamos ainda mais miseráveis. Gostei muito do seu blog, irmão. Já li vários textos. Que o Deus de sempre, como apregoa o título do seu post, continue te abençoando e a toda a sua família.

Patrício Figueira disse...

Alex, não me canso de te elogiar. Muito legal o seu artigo "O Deus de sempre". O enviei para vários amigos e irmãos, inclusive para o meu pastor. Deus abençõe. Muitíssimo.

Larissa Ferraz disse...

Oi, Alex. Provavelmente, é a última vez este ano que estarei deixando um comentário no 'nosso blog'. Rs. Tô saindo de férias com toda a família. Devemos viajar amanhã pela manhã. Só voltarei depois do ano novo. Como temos notebook poderia até dar uma olhadinha entre uma onda e outra, mas meu marido já disse que, se nesse mês de dezembro, eu chegar perto da Internet, ele me larga. Rs. Mas, não fique triste. Rs. Em janeiro volto à ativa na função de 'bisbilhoteira incorrigível de blogs'. Amei esse seu último artigo. Simplesmente maravilhoso. Fica com Deus. Um beijo grande na Jeane e na Amandinha.

Alex Malta Raposo disse...

Larissa, vc já se tornou sócia-proprietária deste espaço. Um forte abraço e que o Pai lhe conceda férias abençoadas e revigorantes. Em março, quem sai é a gente. Aliás, vc poderia até assumir o blog, criando e postando os vídeos e comentários. Conto com suas intervenções em 2010.

Alex Malta Raposo disse...

Márcio, Patrício e Mariana, mais uma vez, muito obrigado pelos comentários que, como já expressei várias vezes, nos ajudam muito - a mim e a Jeane - a fazer deste blog um espaço de reflexão e crescimento.

Larissa Ferraz disse...

Risos. Seria uma honra, uma alegria, um grande prazer. Mas não sei escrever artigos. Isso é coisa de jornalista (ou de mulher de jornalista). Rs. Meu negócio é meter o pau na cumbuca dos outros. No bom sentido, é claro. Rs. Desculpe a graça. É que hoje eu tô a mil. Depois de um ano inteiro de batalha, finalmente, o mar...É para animar qualquer cristão, né? Mas, obrigada pelo convite. Rs. Beijo grande. Considera este último.

Larissa Ferraz disse...

Alex, olha eu de novo. Tô aqui em casa arrumando algumas coisas. (estou de férias do trabalho desde o dia 30). De repente, encontrei alguns artigos antigos sobre vários temas bíblicos. Acho que é do tempo eu que eu frequentava a EBD da minha igreja. Rs. Se quiser, posso digitar alguns e enviar para vc colocar no blog. Claro que na volta, né...

Alex Malta Raposo disse...

Olha o meu convite já surtindo efeito. Claro que eu gostaria Larissa. Ficaria muito feliz. Assim, passo a ter duas colaboradoras: Jeane e você. Rs. Forte abraço.

Abreu Silvano disse...

Oi, irmão. Bom demais o seu blog. O conheci através do Púlpito Cristão. Parabéns.

Vilma disse...

Alex, venho agradecer e retribuir a tua visita ao meu blogue.
Estive a dar uma vista de olhos pelo teu blogue que achei muito edificante.
Desejo que continues a ser benção para todos que te leem aqui.
Em Cristo,

Vilma

Celso Trancoso disse...

Nossa. Gostei demais do teu blog, querido. Muito abençoador. Este texto, sobre o Deus que operou no passado e que, para muitos, encontra-se aposentado e de pijamas, é um dos melhores que li nos últimos meses. E olha que eu ando bastante nessa blogosfera, hein?