terça-feira, 20 de julho de 2010

Pequenos Grupos

Uma das grandes ‘conquistas’ da igreja evangélica contemporânea vem se transformando em um grande problema para muitos cristãos. Nos últimos anos, é cada vez mais comum a construção de templos capazes de receber 4, 5 ou 6 mil pessoas. Isso acontece porque, via de regra, o rol de membros da maioria das denominações não pára de crescer. Parece contraditório fazer essa afirmação. Afinal de contas, ganhar almas para Cristo é a missão de todo crente. No entanto, não há como negar que congregar em igrejas que possuem milhares de membros traz dificuldades evidentes para a comunhão.

Para muitos, a solução para essa dificuldade é o que se convencionou chamar de células, ou pequenos grupos, ou, até mesmo, núcleos familiares. Para eles, através de reuniões menores, é possível um resgate dos primeiros tempos do cristianismo, visando uma maior comunhão, edificação e crescimento. Uma lembrança que dá força a essa corrente reside no fato de que o próprio Jesus prometeu a seus servos que estaria presente quando dois ou três deles se reunissem em Seu nome.

Os estudiosos lembram que a reunião de cristãos para a prática da oração e da meditação na Palavra remonta aos primeiros anos subsequentes à ascensão de Cristo. Naquele tempo – não podemos esquecer - não existiam grandes igrejas como as de hoje. Além disso, a perseguição aos discípulos de Jesus era intensa. Em função disso, as reuniões eram clandestinas e a fé cristã, absolutamente proscrita e socialmente censurável. Apesar desse panorama pouco estimulante, estavam presentes na igreja do primeiro século doses gigantescas de unidade, devoção e crescimento.

De modo geral, os pequenos grupos possuem dois objetivos: comunhão entre membros e proclamação do Evangelho. É ali, num espaço mais intimista, que os recém-convertidos são melhor discipulados e, por isso, acabam transformando-se em lideranças. Como compartilhar, sorrir, chorar, acalentar, fortalecer, ser fortalecido, aconselhar ou ser aconselhado quando estamos no meio de uma multidão? Como ouvir e ser ouvido se já nem conhecemos mais as pessoas ao nosso redor?

O pastor Roberto Lay, coordenador do movimento e líder da Igreja Evangélica Irmãos Menonitas, de Curitiba, explica que numa igreja de eventos e programas (liturgia convencional), um número reduzido de pessoas trabalha para preparar alguma coisa para os demais membros que agem como meros consumidores. “Diversamente, as células devolvem a cada crente o privilégio de ser um ministro, realidade que ajuda no desenvolvimento de seu próprio sacerdócio”, aponta.

Questionado sobre o papel das igrejas de hoje em comparação à Igreja Primitiva, Lay defende com convicção a aplicação do modelo celular para a edificação pessoal: “a igreja de Atos, na verdade, aprendeu com Jesus Cristo a ser uma comunidade de relacionamentos, e não de eventos. Era uma igreja bem recebida e estimada pelo povo por sua influência positiva na sociedade”, assinala. Jorge Henrique Barro, diretor da Faculdade Teológica sul-americana, acredita que o caráter missionário das células não pode ser negligenciado. Ele explica que a célula tem uma ênfase missiológica, e não eclesiológica. “Isso porque sua razão de existir não é a Igreja, mas o imperativo da pregação do Evangelho”, sentencia.

Muitos irmãos, desiludidos com os percalços da igreja-instituição, têm levantado a bandeira desse novo movimento que, perigosa e tacitamente, vem se formando: o já famoso ‘cristianismo sem igreja’, também conhecido como a ‘doutrina dos desigrejados’. Para eles e para aqueles que decidiram permanecer na ‘velha arca’, não me canso de reafirmar a minha defesa incondicional da igreja como a reunião dos santos, como a noiva do Senhor, como o maravilhoso ajuntamento daqueles que, agradecidos pelo sangue derramado na cruz do calvário, decidiram resistir. “Sê fiel até à morte e dar-te-ei a coroa da vida” (Ap. 2:10). Repetindo o que já disse várias vezes, prossigo não acreditando na possibilidade de que alguém 'permaneça crente' sem o calor da camunhão e o enriquecimento do compartilhar.

Isso não quer dizer, entretanto, que a igreja não deva buscar um retorno aos valores defendidos pelos cristãos do primeiro século. Muitas denominações, inclusive, já possuem a experiência das reuniões nos lares e dos pequenos grupos. Talvez, o caminho seja o auto-reconhecimento de que, em virtude do gigantismo que caracteriza muitas igrejas, em que pese a progressiva inanição espiritual, esse instrumento esteja precisando ser fortalecido e visto como uma bela saída para muitos de seus problemas.

Baseado em artigo publicado no site Cristianismo Hoje.

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